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Paulo Ormindo no Colunistas: Afirmação e misticismo no 2 de julho


Paulo Ormindo é arquiteto, professor titular aposentado da UFBA e membro da ALB, IAB e da ABI

O Caboclo como Ícone de Identidade Nacional 


“No imediato à Independência, os patriotas resolveram festejar, com brilhantismo, a célebre data. Para isso lançaram mão de uma carreta tomada aos lusitanos [...] e sobre a carreta colocaram um velho mestiço, descendente de indígenas” (Manuel Querino).


A pedido dos combatentes, em 1826, o santeiro Manuel Inácio da Costa cria a figura do Caboclo inspirado na imagem do Arcanjo Miguel subjugando o demônio. O índio se transformaria em um rebelde com pele negra e poderes de santo guerreiro. O Caboclo seria aceito por todos como um mestiço de índio, negro e branco nativo.


Essa seria a primeira manifestação de afirmação de uma imagem nacional que buscava substituir a raiz lusa pela indígena e mestiça. Em 1846, o presidente da província, o Tem. Gal. José de Souza Soares d’Andrea, tentou acabar, com a adoração do Caboclo. Não admitia que os lusos, e ele era um deles, fossem representados como um dragão subjugado por um mestiço. 


Imagina substituir o Caboclo belicoso pela figura submissa de Catarina Paraguaçu e convoca o santeiro Domingos Pereira Baião para realizar a façanha. Essa tentativa de substituir o Caboclo rebelde por uma figura delicada acabaria por reforçar o mito popular. A Cabocla passa a ser a companheira do guerreiro. 


O bando anunciador do 2 de Julho se transformaria em um carnaval e a tropa não se conformava em desfilar junto com o povão chumbado. Em 1875 este conflito chegou ao auge com o Ten.- Cel. Alexandre Augusto Frias Vilar investindo contra o povo, provocando mortes e feridos. Surgiu então a ideia de terminar com a festa e substituí-la por um monumento. Em 1892 foi lançada a pedra fundamental do momento no Campo Grande, mas a festa continuou.


O movimento “caboclista” baiano foi ignorado pela crítica nacional, por seu caráter popular. Para os historiadores o indianismo foi um fenômeno romântico inaugurado em 1856, por Domingos José Gonçalves de Magalhães e seguido por Gonçalves Dias e José de Alencar. O índio fora retratado desde 1500 em duas imagens antagônicas: quando livre como canibal, quando aculturado, como um otário. 


O movimento baiano exaltou o caboclo bravo e libertador. Os autores do sul, 30 anos mais tarde, seguiriam Rousseau, com o bom selvagem. Nas artes plásticas e na música, o indianismo foi ainda mais tardio e mero reflexo da literatura. Ao invés da exaltação heroica do Caboclo os pintores cariocas celebram o réquiem ao índio brasileiro com O suicídio de Moema, de V. Meirelles, O último Tamoio, de R. Amoedo, e as Exéquias de Atalá, de A. R. Duarte. 


O índio seria retomado pelos Modernistas no centenário da Independência como rebelde e esperto em Manifesto Antropófago de Oswald de Andrade, e em Macunaíma de Mário de Andrade. É indiscutível pioneirismo baiano na construção de um ícone nacional: um Caboclo rebelde e mestiço.


Paulo Ormindo pauloormindo@gmail.com  é arquiteto, professor titular aposentado da UFBA e membro da Academia de Letras da Bahia, do Instituto dos Arquitetos do Brasil e da Associação Bahiana de Imprensa


Opiniões e conceitos expressos nos artigos são de responsabilidade do autor

9/julho/2025

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