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De como a antonomásia de Rui pode ser prejudicial a Wagner


José Carlos Teixeira é jornalista, jornalista e especialista em marketing político, mídia, comportamento eleitoral e opinião pública

Ensinou-me, a respeitada e querida professora Elza Santos Silva, nas aulas sobre as figuras de linguagem, quando eu alisava os bancos do Colégio Estadual de Feira de Santana, que a antonomásia é uma variedade de metonímia.


Ocorre quando substituímos o nome de uma pessoa, de um objeto, de um lugar e até mesmo de uma instituição, por outra denominação com uma conotação sugestiva, explicativa, laudatória, irônica e até mesmo pejorativa.


Por exemplo, quando usamos “Princesa do Sertão” em lugar de Feira de Santana; “Rei do Futebol”, em vez de Pelé; “O Mais Querido” em substituição a Flamengo.


Os políticos adoram as antonomásias – exceto, é claro, quando elas têm como objetivo prejudicá-los, por obra e graça de adversários.


Getúlio Vargas gostava de ser chamado “Pai dos Pobres”; ACM quando foi prefeito de Salvador tornou-se o “Pelé Branco das Construções”, depois virou o “Cabeça Branca”; Fernando Collor, até ser cassado, era o “Caçador de Marajás”; Ulysses Guimarães, o “Senhor Diretas”; Fernando Henrique era o “Príncipe da Sociologia”; Lula, o “Sapo Barbudo”, uma criação de Brizola, aliás; e Waldir Pires, o “Moleza”.


No campo da política, antigamente, as antonomásias na maioria das vezes eram criadas por áulicos de gabinete, assessores puxa-sacos ou algum jornalista bajulador. Mais recentemente, passou à esfera dos marqueteiros, como recurso para valorizar um aspecto positivo da personalidade do político por ele atendido – ou um aspecto negativo, quando o interesse é desqualificar um antagonista.


Foi por meio do marketing que o governador Rui Costa ganhou uma antonomásia. Ele tornou-se o “Correria”.


A assessoria do governador diz que a expressão surgiu em decorrência do ritmo acelerado que Rui teria imprimido ao governo no primeiro ano do mandato. Impressionados, dirigentes de órgãos públicos, inicialmente, e populares, na sequência, passaram a chamar o governador de “Correria”.


Não é verdade. A expressão já estava no jingle da campanha eleitoral de Rui em 2014. Em determinado trecho, a letra diz: “Esse cara é humildade, é diferente / é coragem, é correria, segue em frente”.


Dou como certo que a palavra correria entrou na letra do jingle como resultado de indicativos apontados em grupos de pesquisa qualitativa, como uma característica positiva a ser incorporada ao candidato – uma forma de contrapor-se sutilmente ao governador da época, Jaques Wagner, tido como lento.


Durante os últimos sete anos, o marketing do governo trabalhou a imagem de Rui incorporando esse conceito, reforçando a antonomásia. Basta olhar: na propaganda do governo, sobretudo nas redes sociais, é correria pra cá, correria pra lá, correria pra tudo e todo canto.


A tarefa difícil agora, para os sábios marqueteiros governistas, é convencer o eleitor que se acostumou à correria, por força da propaganda massiva, a apoiar uma volta a um passado de lentidão.


Como sabemos, Jaques Wagner, antecessor e agora virtual candidato a sucessor de Rui, deixou o governo em 2014 carregando uma antonomásia negativa que lhe foi pespegada pela oposição: ele era o “Wagareza”.


Ou seja, o que foi bom para Rui nas eleições de 2014 e 2018, pode se tornar um problemão para Wagner em 2022.


Como se vê, também na política, o que dá para rir dá para chorar. É “questão só de peso e medida, problema de hora e lugar”, como nos alerta o compositor Billy Blanco na letra de “Canto Chorado” – samba defendido por Jair Rodrigues na 1ª Bienal do Samba, realizada pela TV Record em 1968, e sucesso nacional na gravação do grupo Os Originais do Samba. 


José Carlos Teixeira zecarlosteixeira@uol.com.br é jornalista e especialista em marketing político, mídia, comportamento eleitoral e opinião pública 


Opiniões e conceitos expressos nos artigos são de responsabilidade do autor

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