O Meme humorístico
A linguagem memética é a linguagem popular por excelência. Ela é um dos motivos pelo final melancólico e meio atordoado, aquele que fica todo mundo querendo entender, dos humoristas profissionais da televisão e dos seus programas televisivos de humor. Programa para quê? Estamos nas redes rindo o tempo todo com esses memes, muitas vezes em tempo real ao fato, acontecimento. Qual ator ou atriz, por mais excelentes que sejam, vão conseguir alcançar a mesma espontaneidade de atores reais, atuando no aqui e agora? Impossível.
O mais fundamental aqui é o fato do povo, através dessa linguagem, conseguir escarnecer de si mesmo e, o mais importante, da ´autoridade oficial`. Tentar criar um outro mundo para si, buscar escapar do mundo oficial opressor, é o principal objetivo e fundamento do Riso Popular.
Atualmente, o que a autoridade oficial está visando, também, com as tentativas de censura da Internet, é essa linguagem, é o meme que, como num Carnaval permanente, coloca tudo de cabeça para baixo, a qualquer momento, sem a necessidade da oficialidade determinar uma data e um roteiro para sua manifestação.
O "rei está nu", novamente, dessa vez, não apenas no período Carnavalesco, mas o tempo todo e a qualquer hora do dia ou da noite. Essa carnavalização do mundo oficial, sério e pomposo, esse aparente caos, é o que o mundo da autoridade oficial menos suporta. Na verdade, ela odeia ser retratada no meme, particularmente, no grotesco, no hiperbólico, " no exagerado" ou " de forma exagerada".
Entretanto, essa linguagem e essa liberdade de comunicação nesse formato, ainda são importantes para o processo de emancipação popular. É, principalmente, através do riso que o popular se expressa e se manifesta genuinamente. O riso é o mais importante patrimônio cultural de um povo. É ele que devemos lutar para preservar a qualquer custo. Custe o que custar!
Qualquer projeto político que se queira emancipador, popular, deve colocar o Riso no centro do seu programa. Do contrário, não é popular, apenas finge.
Nesse atual mundo do meme, podemos enxergar redivivos um Rabelais, um Bakthin, novamente exaltados pelo grotesco que se ( re)anima, no proscênio desse teatro popular contemporâneo. Agora não só nas ruas, como no passado, mas, com muito mais frequência, nas redes.
São Gargântua e Pantagruel que estão de volta no meio da debochada expressão popular. A autoridade oficial finge conviver, gostar do riso popular, cuja expressão principal está na paródia grotesca, na sátira, no deboche, no escárnio, mas, ela, a autoridade, odeia o riso do povo, como já nos alertaram Rabelais e Bakthin, e sempre vão querer controlar sua aparição: decretar quando, onde, como e o porquê, para, daí então, começar a se manifestar.
Do outro lado, o povo sempre tensiona e diz: - engasgado é que eu não morro!!!
Eh, Brasil doido Eh, Brasil que adora não perder a piada nem o riso.
Viva o riso, bálsamo que aplaca os males do corpo e da alma, principal patrimônio do povo brasileiro!
Edson Miranda mbedson@gmail.com é jornalista, professor universitário e escreve no blog do Miranda
Opiniões e conceitos expressos nos artigos são de responsabilidade do autor
20/04/2024