O Brasil somou mais de 2,2 milhões de desempregados nos últimos 10 anos só nas duas pontas mais sensíveis do mercado de trabalho: os jovens e os profissionais acima de 50 anos. Os números mostram que um em cada 4 de jovens na faixa dos 18 e 24 anos, está desocupado, enquanto cerca de 880 mil estão sem trabalho entre os trabalhadores com mais de 50 anos. Segundo dados compilados pela consultoria IDados, no total, são 7,6 milhões de desempregados nas faixas de idade, de 14 a 29 anos e no chamado 50+,
Essas duas gerações com mais dificuldade para conseguir emprego vivem um dilema. Enquanto a mais nova tem mais experiência com as novas tecnologias, os mais velhos possuem a experiência que as empresas pedem, mas não dominam as novas ferramentas, além de enfrentarem o preconceito em relação ao potencial para acompanhar as inovações do mercado e por, supostamente, serem menos flexíveis.
Em 2012, segundo o IDados, o número de desempregados acima de 50 anos era de 508,9 mil pessoas. Hoje eles são 1,4 milhão de pessoas em busca de uma recolocação. A expectativa é que esse grupo continue subindo nos próximos anos por causa das mudanças nas regras da Previdência Social, diz o pesquisador da consultoria Bruno Ottoni. Com o aumento da faixa etária para se aposentar (62 anos para mulheres e 65 anos para homens), as pessoas vão precisar ficar mais tempo no mercado de trabalho.
Apesar de a taxa de desemprego desse grupo ser menor comparada à média nacional de 11%, os números escondem uma situação complicada. Sem oportunidades, muitos desses trabalhadores desistem de buscar trabalho, vivem na informalidade ou tentam o empreendedorismo. Há também os chamados “nem nem nem”, aqueles que não trabalham, não buscam emprego e não são aposentados.
Segundo a gerente Sênior da Catho, Bianca Machado, esses profissionais sofrem com o etarismo. Existe a crença de que os profissionais mais velhos não conseguem acompanhar a evolução tecnológica. Por isso, diz ela, os recrutadores têm receio de contratar esses trabalhadores, mesmo eles tendo experiência e muito a agregar. “Pessoas mais experientes podem querer continuar trabalhando por terem necessidades financeiras, mas também por se sentirem ativas e desejarem continuar dando suas contribuições para o mercado de trabalho.”
Na avaliação do diretor da FGV Social, Marcelo Neri, há uma dificuldade crescente para a geração madura se inserir no mercado de trabalho exatamente por causa do etarismo e dos avanços tecnológicos. Do outro lado, no entanto, a perspectiva é um pouco melhor para os mais novos no longo prazo. “A última década foi muito difícil para os jovens (de 2014 para cá, eles perderam 14% da renda), mas acho que o jogo está virando para eles. Com a digitalização e a transição geográfica, esses profissionais serão mais valorizados.” Com informações do Estadão
Essa geração, diz Neri, fez uma transição educacional forte. Eles têm um nível educacional bem superior ao de seus pais. O problema é que isso não significou melhora na produtividade, ou seja, não houve avanço em termos de inserção trabalhista, diz o diretor da FGV. Segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), trata-se de uma geração mais pobre que a de seus pais. Isso porque o número de empregos bem remunerados de nível médio diminuiu.