O baixo desenvolvimento econômico e social do Brasil e da América Latina tem relação direta com a confiança das populações dos países da região. É o que concluiu estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Documento mostra que apenas 12,6% dos latino-americanos confiam na maioria das pessoas. Último colocado entre os vizinhos, o Brasil tem desconfiança ainda maior: somente 4,69% dos brasileiros acreditam uns nos outros.
O porcentual está abaixo da média mundial (25%) e dos países ricos que integram a OCDE (41%). O estudo analisou correlações entre a confiança e questões como níveis de produtividade, inovação e formalização do mercado de trabalho e concluiu que, quanto maior o descrédito, pior são as questões econômicas e sociais.
Na América Latina, o nível de confiança é maior em países com maior desenvolvimento econômico e humano: no Uruguai (21,08%), no México (18,37%) e no Chile (17.07%). Na Argentina, o porcentual é de 16,15%. O penúltimo colocado, ainda à frente do Brasil, é a Venezuela, com 5,21%.
“Quando pensamos em política pública, vêm à cabeça temas como reformas fiscais e produtividade, que são essenciais, evidentemente, mas a confiança também é um tema central para a recuperação econômica”, disse ao Estadão o representante do BID no Brasil, Morgan Doyle.
Doyle afirmou que a desconfiança prejudica o apoio a reformas, trava a inovação e prejudica a redução da burocracia. “A boa notícia é que o Brasil tem ferramentas para superar esse desafio: é enorme o potencial do País, por exemplo, em digitalização, uma das chaves para aumentar transparência, empoderar cidadãos e gerar mais confiança.”
Para o BID, aumentar a confiança é fundamental para a recuperação econômica na América Latina e Caribe no pós pandemia. “A confiança é o problema mais urgente e ainda assim menos discutido na América Latina e no Caribe. Seja nos outros, no governo ou em empresas, a confiança é menor na região do que em qualquer outro lugar do mundo”, afirmou o texto.
O descrédito na América Latina não é maior apenas nas outras pessoas, mas também em governos e instituições. O estudo do BID mostra que somente 29% dos latino-americanos têm confiança no governo, ante 44% no mundo todo e 38% dos países ricos. Os dados segmentados não foram detalhados por país.
A região também tem menor segurança em instituições, como o sistema judicial e nos militares e nas eleições. A fé no estado de direito é tida por 44,8% dos latino-americanos, ante 50,8% no mundo todo e 86,12% na OCDE.
O estudo mostra ainda que a menor confiança está relacionada a democracias mais frágeis, menos inovação e disposição a riscos. Além disso, nos países com maior descrédito há mais informalidade no mercado de trabalho, maior ineficiência nos mercados financeiros, políticas anticrime menos eficazes. Também há menos demandas por bens e investimentos públicos. Estadão