As manifestações sobre o vinte de novembro em que se celebra o dia da consciência negra, no Brasil, não reflete com nitidez os principais problemas que acarretam o preconceito e a desigualdade socioeconômica entre os humanos afrodescendentes e os originários europeus e asiáticos.
Para os estudiosos o racismo não provem da raça, mas da estratificação econômica que privilegia os detentores dos poderes econômico, judicial e político. O processo histórico revela quando da oportunidade do período escravocrata, a prestação de serviço negro proporcionava ganhos financeiros aos patrões, no período, donos de engenhos e posteriormente produtores rurais e de manufaturas. A principal resistência dos ante-escravocratas se resumiam na perda de uma mão-de-obra de baixo custo assim como a permanência dos trabalhadores escravos em sua propriedade com o domínio existente.
A legislação que acabou com a escravidão no Brasil não revelou o alcance intencional do mandatário português, uma vez que, além de deixar brechas jurídicas impôs condições para a aplicação inicial do texto legal. Além disso a ausência de uma fiscalização em relação ao cumprimento, era aquém do necessário, permitindo que alguns patrões deixassem de cumprir, tanto na integridade quanto na parcialidade, como se observa atualmente em relação às Leis trabalhistas em vigor.
Ao longo dos anos os poderes vêm restringindo direitos trabalhistas no sentido de proporcionar viabilidade de lucros empresariais, assim com acesso a formação e posições técnicas e cientificas aos afrodescendentes de maneira a manter como exército de reserva acima da demanda no sentido de melhor negociar remuneração.
A perversa segregação econômica aos pretos, além de concentrar essa população de 54% da população na periferia dos centros urbanos, com deficiência dos serviços básico de saneamento, escola pública, postos de saúde, coleta de lixo e de atividades de lazer, cerceia a condição de frequentar ensino e profissionalização de qualidade, acessos aos bens culturais e por consequência participação efetiva nas atividades políticas e de governo.
Assim o embate não deve ser entre pretos, pardos e brancos, mais contra o cerceamento estrutural e do domínio autoritário do Estado sob a égide do capital. Não se pode aceitar uma configuração em que 70% dos desempregados sejam afrodescendentes, tão pouco que 70% dos encarcerados, 36% dos 14 milhões dos desempregados, 64% assassinatos pela repressão policial envolvam esse seguimento.
Nenhum país pode alcançar um pleno desenvolvimento econômico-social abdicando de metade da força de trabalho da população economicamente ativa.
Adelmo Borges adelmobs@terra.com.br
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