O Brasil é o país mais perigoso do mundo para os defensores dos direitos humanos dos indígenas. É o que mostra o relatório intitulado 'Eles Deveriam ter Sabido Antes', que cita governos e empresas em todo o mundo como responsáveis pelo aumento da fragilização da proteção das terras e florestas pelas comunidades indígenas. Mesmo com mais de 50% do território mundial, esses populações indígenas só têm direitos legalmente reconhecidos em 10%, algo que dá liberdade aos governos para declará-los ilegais em terras que têm sido seus lares há gerações.
De acordo com o relatório coordenado por Victoria Tauli-Corpuz, mulher indígena e líder do povo filipino kankanay igorot, a situação no Brasil é grave. Dos 312 defensores de direitos humanos que foram assassinados em 2017, 67% eram indígenas. Destes, 80% ocorreram em 4 países: Brasil, Colômbia, México e Filipinas, embora a situação do Equador, Guatemala, Honduras, Índia, Quênia e Peru também receba destaque. A ONG britânica Global Witness, contabilizou pelo menos 207 assassinatos em seu relatório de 2017, apresentado em julho e que a relatora também menciona. Entre esses assassinatos, o relatório cita José Claudio Ribeiro da Silva e sua mulher, Maria do Espírito Santo, executados em 2011 por vários tiros de espingarda.
Esses assassinatos quase sempre ocorrem no contexto de ameaças contínuas contra comunidades inteiras. Primeiro, com campanhas de difamação e discursos de ódio que apresentam os povos indígenas como "obstáculos ao desenvolvimento", ou, no pior dos casos, como "terroristas" ou "bandidos", ressalta o relatório de Tauli-Corpuz. Em seguida surgem mandados de prisão com base em acusações falsas, que às vezes são deliberadamente deixadas pendentes para que as comunidades vivam sob uma ameaça perpétua. Quando os líderes indígenas são detidos, muitas vezes permanecem na prisão por anos aguardando julgamento. Nos piores casos, o militarismo, a legislação antiterrorista e os "estados de emergência" são usados para justificar uma crescente violência física.
Tauli-Corpuz viveu na carne a perseguição teve seu nome incluído em uma lista de 600 terroristas perseguidos pelas autoridades do país, em retaliação por defender os povos da ilha de Mindanao, no seu país. El País