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Estratégia petista de jogar ACM Neto no colo de Bolsonaro pode prejudicar Lula


José Carlos Teixeira é jornalista e especialista em marketing político, mídia, comportamento eleitoral e opinião pública

“Amor sem beijinho, Buchecha sem Claudinho, Sou eu assim sem você”                                        (Fico Assim Sem Você, de Abdullah e Cacá Moraes) 


Presidente estadual do PT, Éden Valadares voltou animado da festa de lançamento da pré-candidatura de Lula, realizada em São Paulo no sábado passado, e anunciou a estratégia concebida pelo partido para bater o oposicionista ACM Neto e tornar o ex-secretário estadual de Educação Jerônimo Rodrigues o sucessor de Rui Costa no comando do governo baiano.


O plano parte da premissa de que os partidos que compõem a base governista já têm a preferência da expressiva maioria do eleitorado baiano, pois Lula vem liderando todas as pesquisas (51,3% das intenções de voto, contra 25,8% de Jair Bolsonaro, segundo levantamento divulgado no final do mês passado pela Paraná Pesquisas).


Segundo Éden, o desafio agora é passar esses votos de Lula para Jerônimo. “São votos nossos e não de ACM Neto”, garante, ao anunciar que o partido mobilizará todas as suas forças para colar as candidaturas de Jerônimo e de Lula, para conscientizar o eleitorado de que ambos jogam no mesmo time – e, portanto, quem  votar em um deve votar no outro. Até aí, tudo bem. Estranho seria se não o fizesse.


O problema começa quando esse movimento caminha paralelo a igual esforço para mostrar que ACM Neto, por sua vez, bate bola no time de Bolsonaro, cuja rejeição é alta entre os baianos. Acredita-se que jogando Neto no colo de Bolsonaro, ele perderá votos, que acabarão migrando para Jerônimo.


Só que isso é tudo que os inquilinos do Palácio do Planalto mais desejam. Tanto que já pensaram até mesmo em organizar uma caravana para subir a Colina Sagrada soltando foguetes, em agradecimento ao Senhor do Bonfim pelo que consideram uma graça: ver a candidatura de Bolsonaro colada à de ACM Neto.


A exceção fica com o ex-ministro João Roma, candidato oficial a governador do bolsonarismo, que não gosta nada dessa ideia. É que ao trabalhar para unir umbilicalmente os nomes de Neto e Bolsonaro, os petistas acabam contribuindo para desidratar a candidatura de Roma – e aí temos um efeito colateral: com Roma desidratado, aumentam as possibilidades de decisão da disputa logo no primeiro turno.


A alegria no Palácio do Planalto decorre de uma conclusão: se essa lógica funcionar para um lado, deve igualmente funcionar para o outro. Ou seja, como Neto vem, tal como Lula, liderando todas as pesquisas eleitorais (obteve 55,4%, contra 16,1% de Jerônimo na mesma sondagem da Paraná Pesquisas), o esforço petista para uni-lo a Bolsonaro também poderá contribuir para puxar para cima o percentual de votos do presidente da República na Bahia.


A questão é que tudo o que Lula não quer é ver cair sua frente sobre Bolsonaro no quarto maior colégio eleitoral do Brasil, em uma eleição que se prenuncia disputada – e não mais um passeio como chegaram a prever alguns analistas mais apressados. Daí porque tem agido com cautela. Quando esteve em Salvador, no lançamento da pré-candidatura de Jerônimo, evitou qualquer ataque a ACM Neto: “Eu vou evitar falar mal dos outros; eu vou falar bem de nós”, disse, ao discursar.


No mesmo diapasão, Bolsonaro tem regido sua banda. Aposta em João Roma, mas não quer briga com ACM Neto, de cujos votos não tira o olho. No mês passado, por exemplo, em entrevista à TV Aratu, elogiou o primeiro, mas evitou criticar o segundo. “Não costumo criticá-lo. Pessoalmente não tenho nada contra ele”, disse.


Neto, por sua vez, faz tudo para não federalizar a campanha. “Vou governar com qualquer que seja o presidente que o Brasil escolher”, diz, sugerindo neutralidade na disputa pela Presidência da República.


Enfim, é o jogo sendo jogado. Voltemos, pois, à canção de Abdullah e Cacá Moraes que abriu o artigo, agora cantada em três vozes:


“Tô louco pra te ver chegar
Tô louco pra te ter nas mãos
Deitar no teu abraço, retomar o pedaço
Que falta no meu coração”.


José Carlos Teixeira  zecarlosteixeira@uol.com.br é jornalista e especialista em marketing político, mídia, comportamento eleitoral e opinião pública 


Opiniões e conceitos expressos nos artigos são de responsabilidade do autor

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