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Arembepe e seus 460 anos de história


Diego Copque é professor, historiador, pesquisador da História de Camaçari e autor do livro em edição

A história de Arembepe vai muito além de uma vila de pescadores, que depois passou a ser mundialmente famosa pela Aldeia Hippie, nos anos 1970. Povoado faz parte do processo de colonização do Brasil, em meados do século XVI, com as primeiras incursões dos padres da Companhia de Jesus. Eram as ações de cristianização e "aculturação" dos povos originários, neste caso os índios da etnia tupinambá.


Justamente num mês de outubro, 11 anos depois da fundação da cidade do Salvador, e dois anos e cinco meses após a fundação do Aldeamento do Espírito Santos (Vila de Abrantes), foi fundado no ano de 1560 o Aldeamento de Santo Antônio de Rembé.


Situado entre os rios Joanes e Capivara, também conhecido como Rio Caratingui, as terras do Aldeamento do Espírito Santos confrontavam com as povoações denominadas de Moritiba, (Góis Calmon distrito de Simões Filho), Vale do Rio Joanes, Piranema, (Parafuso) Camassary, e com a localidade denominada pelos índios tupinambás de Rembé, ou Arembepe que distava cerca de três léguas (12 quilômetros) do Aldeamento do Espírito Santo e aproximadamente nove léguas (36 quilômetros) de Salvador. 


De acordo com o eminente historiador, geógrafo, engenheiro, lexicógrafo e tupinólogo, Theodoro Fernandes Sampaio, e o professor, geólogo, arqueólogo, lexicográfico Luiz Caldas Tibiriçá, reputado como um dos maiores especialistas em línguas indígenas na América do Sul, dizem que  as palavras "Rembé ou Arembepe", apresentam mais de uma interpretação etimológica que possui correlação. Significando as duas palavras na borda da povoação, e embarcadouro. 


A referente fundação na condição de aldeamento ocorreu através do padre Luiz da Grã, esse recém-chegado de Portugal para assumir o cargo do segundo Padre Provincial da Companhia de Jesus no Brasil.  Grã, que nasceu em 1523 em Lisboa e morreum em 1609 no Colégio Jesuíta de Olinda na Capitania de Pernambuco, teve intensa participação na fundação de diversos aldeamentos e colégios jesuítas no Brasil.


O primeiro ato de Luiz da Grã, após ter se estabelecido em 1560 na Capitania da Bahia de Todos os Santos, foi fundar o aldeamento denominado de Santo Antônio de Rembé. Infelizmente as fontes que nos trazem informações a respeito desta celebração não nos informa, exatamente, a data de sua fundação, mas, registra que a solenidade ocorreu no mês de outubro de 1560. 


Neste mesmo ano foi fundada uma igreja no Aldeamento de Santo Antônio Rembé que, possivelmente, foi edificada de madeira e palha. No dia 1 de junho de 1561, Luiz da Grã, batizou naquele aldeamento 113 indígenas e celebrou 11 casamentos. Registros mostram que estavam presentes ao casamento indígenas residentes em outros aldeamentos da região e portugueses residentes em Salvador.


Em uma nova visita ao aldeamento Luiz da Grã, celebrou o casamento de 19 índios, entre eles o casamento de um índio que tinha oito mulheres. Segundo testemunhos dos padres após a concretização do casamento, as outras sete  mulheres se afastaram do índio, ficando ele desde então com uma única esposa. O que denota a intervenção dos padres na pratica cultural da poligamia dos tupinambás.


Ainda no ano de 1561, a região do Recôncavo Norte da Bahia já abrigava onze aldeamentos. De acordo com Gabriel Soares de Souza, autor de Tratado Descriptivo do Brasil, escrito em 1587. No ano de 1574, o nobre e navegador português Luís de Alter de Andrade, comandante da nau Santa Clara naufragou em Arembepe, neste fatídico evento morreram mais de 300 pessoas, inclusive o navegador Luís de Alter.


Em 1583, esta região contava apenas com três aldeamentos. Com a extinção de oito aldeamentos, seus territórios passaram a ser ocupados por colonos, e até mesmo pelos próprios padres da Companhia de Jesus dando origem a criação de fazendas de gado, de cana-de-açúcar e outras culturas de subsistência.


O Aldeamento  de Santo Antônio de Rembé foi desativado em 1725, em um documento de 3 de setembro de 1750, o vigário da freguesia de Santo Amaro de Ipitanga, João Rodrigues de Figueiredo, faz referência a igreja que tinha como padroeira Nossa Senhora do Repouso na região do Rio Capivara, no extinto aldeamento de Santo Antônio de Rembé. Como remanescente do Aldeamento de Santo Antônio de Rembé, conservamos em Arembepe as Fontes dos  Frades e da Cacimba Grande.


No final do século XVIII, a maior parcela de terras do antigo Aldeamento de Rembé pertencia a Francisco Vieira da Encarnação que posteriormente, as vendeu para Marcos Pereira da Silva e na sequência pertenceu a outros  ricos fazendeiros.  Entre meados do século XIX e as primeiras décadas do século XX, Antônio de Souza Cunha, ancestral do ambientalista e griot de Arembepe Rivelino Martins, foi proprietário das terras da Fazenda Caratingui que originou a Aldeia Hippie.


Hoje o santuário ecológico da Aldeia Hippie de Arembepe nos inspira a falar de sua verdadeira vocação de ser aldeia autônoma desde antes de sua fundação. Arembepe está situada em uma localidade que foi Porto de pescadores e está inserida no contexto de uma das mais belas praias entre os 42 Km da Costa Atlântica do município de Camaçari.


Nesse espaço geográfico, renomadas personalidades da cultura e das artes na esfera nacional e internacional, entre as décadas de 1960 a 1970, ocuparam essa região de Arembepe celebridades como o saudoso poeta Wally Salomão, Cazuza, Ney Matogrosso, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Janis Joplin, Jack Nicholson, Mick Jagger entre outras estrelas.


Entretanto, sua história e cultura foram talhadas por ilustres moradores do vilarejo, a exemplo de: Dona Bete, Mestra da Chegança Feminina e do Samba de Roda Nativas de Arembepe; Sr. Lió, da Chegança de Mouros Barca Nova de Arembepe; Dona Fefê da Chegança Feminina e do Samba de Roda Nativas de Arembepe; Sr. Antônio Corôa, um dos precursores da Chegança Masculina de Mouros; Sra.


Também com grande importãncia nesse processo, a professora e gestora da Escola Municipal Coqueiro de Arembepe, Rosana de Almeida Souza; o Mestre de Capoeira Bolinho; os ambientalistas Rivelino Martins e Fabiana Franco. Entre os que não estão mais neste plano carnal, temos: a Professora Nadir Araújo, mestra que tem seu nome registrado no Colégio Estadual Professora Nadir Araújo Copque; Dona Lindaura, do Presente de Iemanjá de Arembepe; e Sr. Anísio Fernandez, da Chegança Masculina de Mouros Barca Nova de Arembepe.


Diego de Jesus Copque  diegokopke@gmail.com é professor, historiador, pesquisador da História de Camaçari desde 2001. É autor do livro em edição: "Do Joanes ao Jacuípe, uma história de muitas querelas, tensões e disputas locais".


Opiniões e conceitos expressos nos artigos são de responsabilidade do autor

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