Até final da década de 1980, o discurso contra o então prefeito biônico, Humberto Ellery, era sempre o mesmo. "Corrupto", "ditador", "capacho dos militares", até de “ladrão”, o alcaide que ficou 11 anos comandando o município, era chamado pelos adversários, independente da patente de poder na estrutura oposicionista.
Em 1985, o então vereador de primeiro mandato, Luiz Caetano, PCdoB de coração, mas PMDB de carteirinha oficial, vence José Eudoro Reis Tude (PDS), capitão do Exército e candidato a prefeito apoiado por Ellery, também militar da mesma patente e da força armada do seu pupilo.
Novo governo, projetos, propostas e muitos sonhos para a Camaçari onde o povo estaria no poder. Fino observador da cena política camaçariense, o então companheiro Antonio Cotrim, até recentemente comunista convicto, fez uma previsão: "Não dou 10 anos para Caetano e Ellery subirem no mesmo palanque”. A companheirada, e muita gente, inclusive adversários dos dois lados, riram da profecia. Ninguém quis apostar por entender que tal cenário seria impossível.
A premonição de Cotrim se concretizou em 1992, com a montagem do palanque que garantiu a 1ª e única eleição pelo voto popular do ex-prefeito Humberto Ellery (PMDB), que apesar do cargo biônico, sempre foi muito querido pela população.
A aliança não apenas assegurou a participação de Caetano no 1º escalão, inicialmente como presidente da Decom, empresa encarregada da construção de habitações populares, e depois como secretário de governo do outrora adversário mortal.
A aproximação também queimou a língua e desconstruiu de vez o discurso político de pureza e impossibilidade de aliança com a chamada direita, defendida na época por Caetano. Longe da ortodoxia, o Caetano que passou pelo PSB e PSDB, voltou sob a estrela do PT ao poder municipal em mais duas eleições de prefeito (2004 e 2008).
24/2/2020
João Leite Filho joaoleite01@gmail.com (Editor)